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RESSENTIMENTO E SAÚDE MENTAL

Jun 24, 2022 5:40:11 PM Psicóloga Cleidiane da Silva Cruz – CRP: 11/15856 4 min de leitura

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Cleidiane da Silva Cruz CRP 11/15856

Afinal de contas… o que é ressentimento?

Será que o ressentimento é algo que compromete nossa Saúde Mental? Como devemos fazer para sentir isso de uma forma mais saudável?

De acordo com o dicionário online de português, a palavra ressentimento refere-se à mágoa, angústia ou rancor ocasionada por uma ofensa ou uma desfeita. Ressentimento surge da palavra sentimento, de origem latina, sentimentum. Ressentir se origina então da palavra sentir, e a colocação do prefixo “re” denota a ideia de passado, ou seja, ressentir seria então o sentir algo que já aconteceu, um olhar para atrás.

Ressentimento significa sentir novamente algo que diz respeito a mágoa que é provocada por algo de mau que alguém nos fez. Sendo assim, é uma palavra que está relacionada à ideia de rancor ou a alguém que é rancoroso.

Geralmente, alguém que está se sentindo ressentido não consegue perdoar, está sofrendo intensamente pelo que lhe provocou esse afeto de não conseguir esquecer o que lhe foi feito. O sujeito fica paralisado em um trauma, se enchendo de sentimentos de ódio. O ressentimento pode provocar ódio, vontade de vingança, tristeza, raiva; o indivíduo pode até mesmo se sentir incapacitado de responder ao que lhe ofendeu.

Na gramática da língua portuguesa, o prefixo “re” normalmente remete a um retorno a algo já foi uma vez e sugere, portanto, uma repetição. Uma ação repetida. O ressentimento não se refere apenas a algo espontâneo, sendo uma consequência de uma indisposição com alguém, mas tem também a ver com a disposição que o ressentido tem de perdoar a suposta causa do que lhe fez e faz voltar repetidas vezes a cena que lhe afeta tanto. Um sentimento revivido de uma forma perturbadora.

Ressentir pode nos colocar nessa bolha que nos impede de agir, já que o ressentido pensa em uma vingança que nunca chega, e parece não conseguir criar estratégias para afastar essa mágoa que lhe assombra.

Por muitas vezes, perde a concentração, esquece de outros aspectos de sua vida, acaba por não perceber o que está em sua volta. Acaba por perder oportunidades de viver novas situações; compor um novo enredo de um novo capítulo para sua história, fica sempre preso àquela mesma situação que lhe foi ruim.

O estilo de vida preponderante no mundo contemporâneo pode nos oferecer modos de viver excessivos, e acabamos muitas vezes por nos perder no excesso de informação, submergidos de conhecimento e distantes do conhecer sobre si mesmo ou sobre o essencial da vida. Assim, sofrimentos afloram, deixando o sujeito refém de seu próprio mundo e distante da realidade de fatos concretos da humanidade, não sabendo bem como se reconhecer em suas próprias necessidades e distante de entender as possíveis causas do que lhe atinge. No entanto, existem emoções que resistem como ressentimento, pois interrompem o percurso espontâneo do sujeito, impedindo-o de continuar.

O que caracteriza [o ressentimento] é que, frente ao desamparo inerente à própria condição da humanidade, que não pode se fiar no seu instinto, como os outros animais, não há outra alternativa senão se alienar no outro, ou no desejo do outro que lhe acolhe no mundo da linguagem, via pela qual ele tenta sanar o prejuízo. (MAURANO, 2006, p.33)

Outro aspecto importante de ressalva é que o ressentido, por muitas vezes, se coloca em uma relação de dependência, sempre esperando que surja uma solução, uma resposta ou até mesmo uma proteção do outro.

Por um lado é atribuída ao outro a mágoa sobre o que ocorreu, entretanto, há grandes indícios de que não houve questionamentos diretos com o outro sobre essa responsabilidade que o ressentido lhe coloca. E essa atitude de ficar parado diante do que se sente, mesmo que isso lhe traga imenso sofrimento, é a escolha costumeiramente feita pelo ressentido.

A verdade é que o ressentido fica totalmente impotente diante tamanha amargura que sente. Sem conseguir achar um destino, se entregando a essas elucubrações mentais que o consomem.

O ressentimento é “um grito para dentro”. O sujeito se paralisa diante da forte dor que lhe atinge, passando a perceber essa situação ou momento como uma totalidade. Assim como afirma NASIO (2017, p.73), “não é um grito que expira, é um grito que aspira e esvazia o espaço”.

Há gritos bordados por um simbolismo, por um acontecimento, e há gritos que remetem ao enfrentamento do vazio real do corpo, que sente a dor ampla de algo que invade seus pensamentos e lhe paralisa. Como cita Nasio, “uma hemorragia silenciosa para dentro de uma hemorragia audível para fora”.

A vida humana não oferece uma jornada sem dores ou sofrimentos. Decepções existem e, por algumas vezes, persistem, mas isso não significa que o indivíduo humano não possa achar estratégias de conviver melhor com suas frustrações. Não se trata apenas de ignorar o que se sente e tentar esquecer o sofrimento. Diz respeito a sair da repetição que angustia e paralisa, impossibilitando, assim, uma compreensão melhor de si e da vida.

Toda produção humana que inclua uma parcela de invenção, todo ato voluntário que tenha uma parcela de liberdade, toda manifestação espontânea que surpreenda o sujeito e o confronto consigo mesmo é uma expressão positiva do inconsciente, que traz algo novo ao mundo. (NASIO, 2017 p.115)

Viver é ter a chance de sair desse circuito, (re)sentir e inaugurar novas situações de sentir. E se você acha que se encontra com dificuldades de deixar algo ir, de assimilar esses sentimentos ou viver novas situações, talvez seja esse o momento de começar um processo psicoterapêutico – que é uma ótima ferramenta de autoconhecimento e pode ajudar muito nesse seu momento de vida.

 

Psicóloga Cleidiane da Silva Cruz – CRP: 11/15856

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