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CAPA BLOG 10

Talvez você ainda não saiba, mas o psicólogo pode atuar na clínica com diversas abordagens diferentes. Durante a faculdade, nós psicólogos conhecemos as principais abordagens da psicologia e, no final, é recomendado escolher apenas uma para se especializar, pois apesar de todas mostrarem eficácia para o trabalho clínico, elas partem de princípios filosóficos bem diferentes, tornando incompatível trabalhar com todas ao mesmo tempo.

Pensando que esse assunto das abordagens pode ser uma curiosidade para você, que deseja escolher o seu terapeuta, vou descrever rapidamente nesse texto algumas das principais abordagens da psicologia.

Não podemos falar de abordagens sem falar da Psicanálise, uma grande abordagem da psicologia que deu origem a muitas outras e que, assim como ela, trabalham com o inconsciente. Ela teve início nos trabalhos de Breuer e Freud, tratando de pacientes com sintomas conversivos. Um sintoma converso significa que alguma questão psíquica fez o paciente demonstrar isso fisicamente, como através de uma cegueira ou perda de sensibilidade em alguma parte do corpo, por exemplo.

Inicialmente, Freud começou a utilizar a Hipnose e, junto com Breuer, observaram que durante o transe hipnótico, os pacientes ficavam livre dos sintomas. Eles então propuseram que o afastamento de conteúdos inaceitáveis da consciência por meio de um mecanismo de defesa era o que nomearam de repressão – e exatamente o que causava os sintomas. Freud então desenvolveu outros métodos de acessar o inconsciente, como a livre associação, a interpretação dos sonhos e a análise da transferência, que são utilizadas até hoje para isso.

Na livre associação, o paciente deitado no divã é orientado a falar sobre o que vier a sua mente e, então, o analista escutando com atenção pode ajudar nas interpretações dos conteúdos, fazendo pequenas pontuações. A interpretação dos sonhos, como o nome bem diz, busca analisar os sonhos dos pacientes e explorar os conteúdos inconscientes que se manifestam neles.

Na análise da transferência, o terapeuta vai interpretar pensamentos e sentimentos do paciente voltadas para ele, mas que, na verdade, eram para pessoas do passado e se mostraram para o terapeuta.

Na psicanálise, o terapeuta adota uma atitude neutra, sem fazer julgamentos sobre os pensamentos, desejos e sentimentos do paciente, buscando apenas compreendê-los. Ao longo do tempo, a psicanálise mudou bastante. A postura tradicional era a de que o terapeuta é uma tela em branco, mas atualmente ele deve ser o mais natural possível, facilitando a relação terapêutica. A psicanálise vai usar dessa relação para explorar a questão da transferência, como dito anteriormente.

Em resumo, a psicanálise é uma abordagem que vai utilizar da relação terapêutica para explorar as questões transferenciais que surgem nessa relação e, assim, chegar ao inconsciente dos pacientes. Ao chegar “lá”, o terapeuta buscará ajudar o paciente a elaborar seus conflitos internos e sentimentos perturbadores associados a eles.

Já a Terapia Comportamental se baseia nas questões da aprendizagem para explicar o surgimento e a eliminação dos sintomas. Dentro dos princípios da aprendizagem utilizados pela Comportamental, encontramos o Condicionamento Clássico de Pavlov, e o Condicionamento Operante de Skinner. A comportamental não trabalha com o conceito de inconsciente e nem com análise de sonhos.

No Condicionamento Clássico, Pavlov percebeu que determinados sinais neutros do ambiente (como uma sineta) aconteciam ao mesmo tempo que um sinal que produz efeito no nosso corpo, como comida, consecutivamente. Passavam a produzir a mesma resposta que o sinal que produz respostas. No caso, somente a sineta já produzia a salivação que a comida produziria. Para a análise do comportamento, esse fenômeno pode explicar as reações de medo de sinais neutros das fobias específicas.

Já no Condicionamento Operante, as consequências de um comportamento podem influenciar seu aumento ou diminuição. Por exemplo, a pessoa ansiosa que se esquiva das situações que causam a sua ansiedade. Depois que ela se ver livre da situação, se sente aliviada. Para Skinner, é por essa sensação de alívio que ela vai repetindo esse comportamento.

Essa abordagem também vai se utilizar da aliança terapêutica, pois será através dela que o psicólogo poderá realizar suas análises e descobrir quais são os causadores dos problemas do paciente, assim ajudando-o a identificar também esses causadores e enfrentá-los.

A aliança de trabalho será muito importante pois, como percebeu, os comportamentos atuais do paciente estão sendo de alguma forma recompensados, e, a curto prazo, a mudança pode não ser tão recompensadora assim.

O criador da Terapia Cognitivo Comportamental é Aaron T. Beck. Essa teoria começou com o nome de Terapia Cognitiva e, mais tarde, adicionou teorias e técnicas da análise do comportamento, passando a ser chamada da forma que é conhecida hoje. Beck começou cuidando de pacientes com depressão em 1960.

Ele acreditava que a maneira como as pessoas interpretam as coisas que acontecem em suas vidas determina como se sentem e se comportam. Ele chegou a essa teoria depois de observar a visão negativa que os pacientes com depressão tinham de si mesmos, do mundo e de seu futuro (Tríade de Beck).

Beck propôs então que essa visão negativa fosse a responsável pelos sintomas depressivos dos pacientes. Sua teoria vai buscar atuar justamente na cognição, intervindo nessas visões distorcidas.

Na TCC, o psicólogo busca levar o paciente a utilizar seus próprios recursos para encontrar seus erros de lógica ou crenças disfuncionais, para depois corrigi-los. De acordo com Cordioli, psiquiatra que escreveu um livro muito citado sobre diversas abordagens da psicologia a TCC, tem como marca registrada a tarefa de casa.

Outra abordagem muito famosa na psicologia é a Gestalt Terapia. É atribuída a sua criação a Fritz Perls mas sabemos que sua esposa Laura Perls também teve papel fundamental nessa criação da abordagem.

O casal inicialmente trabalhava com psicanálise, e participava de um grupo que buscava mudanças políticas na Alemanha. Por conta disso, acabaram se tornando alvo dos nazistas, que começaram a crescer na Alemanha naquele período.

Por conta da participação política, perceberam rapidamente que as coisas ficavam perigosas e saíram como refugiados. Inicialmente, foram para a Holanda, onde se hospedaram em um campo de refugiados e, depois, descobriram que havia chance de praticar a Psicanálise na África do Sul, para onde decidiram ir.

O casal seguiu na psicanálise até que, em 1936, foram a um congresso internacional de psicanálise, levar suas ideias para Freud e outros psicanalistas. Mas acabaram não tendo essas visões bem recebidas, o que levou Fritz Perls a publicar um trabalho na Inglaterra com o subtítulo “uma revisão da teoria e do método de Freud”.

De fato, as ideias de Perls eram muito diferentes das de Freud. Ele focava muito no aqui e agora, diferente de Freud, que não focava nessas questões, mas sim no que o inconsciente criou no passado. A Gestalt Terapia tem como principal arma a relação terapêutica e, segundo Laura Perls, a essência dessa abordagem está na relação estabelecida entre terapeuta e paciente.

Para eles, o papel da terapia é ajudar o paciente a se tornar vivo para as experiências imediatas do momento presente. Na Gestalt Terapia, o foco para o começo da terapia pode ser qualquer um. Assim como um sintoma, um sonho, um suspiro ou uma mera expressão facial. Nessa abordagem, qualquer elemento desses é o núcleo do trabalho. A medida de saúde para Perls é a habilidade de experimentar o novo como novo.

As abordagens mudam o foco de trabalho, mas, no final das contas, o objetivo continua o mesmo: buscar trazer uma vida mais saudável para as pessoas.

Como você pode ver, não importa qual seja a abordagem, a relação terapêutica é algo muito importante. Existe todo um plano de trabalho que envolve essa relação de confiança entre terapeuta e paciente, e por isso mesmo é tão importante que o paciente mantenha um acompanhamento sempre com o mesmo psicólogo.

Essas são algumas das abordagens da psicologia. Existem ainda muitas outras abordagens e não é possível esgotar o assunto em apenas um texto, porém, como você pode ver por tudo dito aqui, todas as abordagens são bem fundamentadas teoricamente e, por isso, igualmente capacitadas para ajudar você, independente de qual seja o seu sofrimento. O mais importante mesmo é que você sempre busque ajuda.

Psicólogo Pedro Ítalo dos Santos - CRP 11/13765

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